1 de maio de 2017

Fibromialgia, dor crónica e meditação

Há uns tempos, sempre que ouvia falar em meditação, vinham-me à mente imagens com pessoas em estado de transe, num ambiente com incensos e música indiana. Redutor, eu sei, mas era o que eu pensava. Por outro lado, achava que as pessoas que praticavam meditação, eram pessoas muito zen, muito "peace and love" e que viam a vida com outros olhos (sim, vi muitos filmes). E quando alguém me falava em meditação, nem deixava falar, dizendo logo que não era para mim, que eu era demasiado eléctrica para conseguir fazer meditação...e pior, achava que ainda me iria fazer mal (ok, agora podem rir!)

Mas, quis o destino...e o diagnóstico de Fibromialgia que a minha visão das coisas e do mundo mudasse radicalmente. Acredito que nada acontece por acaso (preciso mesmo acreditar nisso) e por sugestão da minha reumatologista, consultei uma terapeuta de psicomotricidade (ver aqui), que me ajudou a abrir a mente e a pensar além da doença. Sempre fui uma pessoa positiva, mas como toda a gente que recebe um diagnóstico de doença crónica, há dias em que andamos mais apreensivos. Com a minha terapeuta, aprendi que é possível haver uma co-existência minimamente equilibrada entre mim e a "dita". 

Desde o princípio ela percebeu que eu era de personalidade forte (outros dirão que é mau feitio!) e que era preciso ir com calma, pois eu era de ideias feitas. Meditação, relaxamento e blablabla, não era para mim. Até que ela me pediu para deitar na cadeira (semelhante à do dentista, mas só mesmo na parte confortável) e me tapou com uma manta começou a pedir para eu fechar os olhos e visualizar na minha mente determinadas situações que ela me ia pedindo. A voz suave que me mandava respirar muito lenta mas profundamente, a música tranquila (de sons de água porque eu tinha-lhe dito que adorava o mar), a luz ténue na sala e a minha vontade de esquecer por uns momentos as dores e deixar de me focar nelas, fizeram com que eu "me deixasse" levar. E só dei conta quando no fim da sessão, ela me chamou de volta à realidade e eu me apercebi que durante aquele tempo em que me libertei, deixei de sentir dor, la-estar, desconforto, tudo. Só sentia leveza, nada de dor, nada de calor na nuca, nada de rigidez, nada...Achei aquilo tão estranho. Como era possível aquilo ter acontecido? A mim? Logo a mim, que não acredito em nada disto. Sempre fui como S. Tomé e preciso de ver (ou que me aconteça) para crer.

A terapeuta explicou-me que o que tinhamos feito, eram exercícios mentais de relaxamento profundo. Tal como a meditação, ao desviarmos o nosso foco daquilo que nos incomoda (neste caso, a dor, o mal-estar e tudituditudo) conseguimos fazer com que a nossa mente se sobreponha aquilo que sentimos fisicamente.

Percebi que TALVEZ, devesse dar uma oportunidade à coisa e aprofundar um pouco mais. Certo é que aquele bem-estar se prolongou ainda durante umas horas. Não era impressão minha, não era sugestão, que eu não sou nada sugestionável, mas a verdade é que me sentia bem.

Por sugestão dela, comecei a ler mais sobre meditação guiada e apercebi-me que realmente a meditação traz imensos benefícios na nossa saúde. Entre eles:

  • Maior equilibrio emocional 
  • Maior serenidade 
  • Por reduzir o stress, tem efeitos anti-inflamatórios
  • Reduz a pressão arterial
  • Estimula o sistema imunológico
  • Melhora a qualidade dos sono
  • Aumenta a capacidade de processamento cerebral
  • Entre outros...

Por ter um temperamento inconformado, andei a pesquisar pelo You Tube e encontrei alguns links com exercícios (curtos,.. que eu não tinha tempo para perder).

E dia após dia, fui fazendo e acreditem que nos sentimos diferentes. Nunca fui uma pessoa rancorosa mas era mutio impulsiva. Com o tempo, aprendi a relativizar as coisas, aprendi a conviver com a minha "amiga" de forma nem sempre equilibrada, pois às vezes tenho que a deixar levar a dela avante...mas por pouco tempo!

Às vezes perguntam-me como consigo andar sempre bem disposta, mesmo tendo dores. Bem, algumas pessoas não acreditam sequer que eu possa estar doente, mas dessas não vamos falar. Mas o facto é que passei a aceitar melhor aquilo que eu não posso mudar. E a focar-me mais naquilo que eu consigo fazer e naquilo que consigo desfrutar. O resto, é o resto...

Mesmo com a filha em casa, eu pego muitas vezes no telemóvel e nos fones e digo-lhe para não me ir incomodar ao quarto até eu voltar. Diminuo a intensidade da luz no quarto, ponho os meus fones, e sentada confortavelmente na cama (para mim, é estar bem recostada desde a cabeça até à lombar e com uma almofada debaixo dos joelhos) escolho um vídeo e deixo-me ir. Acreditem que se eu consigo resultados, EU, a ultra-céptica, qualquer pessoa consegue.

Houve alturas em que tinha dificuldade em desligar o cérebro na altura de adormecer. Tinha sono, os olhos caíam de sono, mas o cérebro não desligava. E cheguei a adormecer com meditação guiada.

Deixo aqui alguns links, mas podem procurar outros. O You Tube está repleto de vídeos com as mais variadas aplicações e objectivos, basta escolherem aquilo que pretendem. Não sei explicar porquê, nem a minha terapeuta soube explicar, relaxo muito mais com vídeos com voz de homem, e nem todas as vozes me conseguem "desligar". Quando assim é, passo para outro.

Em inglês:
Acreditem que resulta, se estivermos dispostos a isso e a sair da nossa zona de conforto. E a vantagem é que pode ser feito em casa, na praia, no comboio, desde que tenha um tempinho e tiver forma de se "desligar" um bocadinho. Quando eu não tinha muito tempo, fazia um exercício curtinho (5 minutos) chamado coerência cardíaca. O link é este:
Já falei muitas vezes disto, e em momentos de crise ou quando começo a sentir "aquele" calor na nuca a querer espalhar-se para o resto do corpo, recorro a este exercício em S.O.S. e faz maravilhas. São 5 minutos a controlar a respiração, só isso.

Em dias em que me sinto mais ansiosa sem razão aparente, ou quando sinto os meus pensamentos mais soltos, e não me consigo concentrar, basta-me tirar uns minutos para mim e fico muito mais tranquila. Até a minha filha já diz, quando me vê mais inquieta e que eu não estou bem de maneira nenhuma (conhecem a sensação, certo?), "mamã porque não vais um cadinho para o quarto fazer aquilo que tu fazes?" e a verdade é que vou mesmo e nunca me arrependo.

Não pretendo converter ninguém com isto, mas acho que devemos todos dar uma oportunidade a terapias diferentes, que não têm efeitos secundários e que só nos trazem benefícios. E antes que digam que convosco não resulta, que não conseguem desligar-se, que isto ou aquilo (sim, também dizia o mesmo, por isso sei do que falo), tentem, dêem uma oportunidade mas de espírito aberto. Porque a vida vai muito além da dor e da doença. E é possível no meio de tudo o que passamos, haver um tempo e um espaço para cuidarmos do mais importante: do nosso "EU"!

2 comentários:

  1. Adriana Campos2/5/17

    Muito obrigada pelas dicas. Vou tentar e depois volto para contar como foi. Somos bem parecidas, quase iguais! e desconfio que as pessoas com fibrom. são como nós.

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  2. Também me rendi à meditação, faz uma diferença abismal entre o antes e o depois. Para mim a meditação e a ioga, são essenciais na minha vida com a Fibro.

    Não é fácil entrar em meditação, é preciso treino. Começar com um minuto, depois 2, 3 até que quando damos conta já estamos a meditar. :) Claro que cada pessoa é diferente, há que encontrar a melhor maneira para cada um.

    Inicialmente comigo não foi nada fácil, não conseguia me concentrar, stressava mais com o controlo da respiração e as contagens do que relaxava. Vi uma série de videos e textos sobre meditação, até que um dia comecei a chegar lá. Resolvi juntar a meditação a um ritual que tenho todas as manhãs e que me dá um prazer imenso-ir para a varanda beber café, que era aquele momento do dia em que percebi que relaxava e respirava das dores do dia-a-dia. Como não consigo ficar na posição de lótus muito tempo, arranjei um banquinho pequeno em que me sentava confortavelmente com a coluna recta. Sim, porque para meditar só precisamos de estar confortáveis e com a coluna direita, de resto pode ser praticada sentada, deitada, ou qualquer outra posição que o permita. Começar a respirar profundamente, a relaxar um pouco o corpo, depois contar cada respiração de 1 a 10 por 10 vezes mas sem pressão, sem tentar pensar em nada, nem reter os pensamentos, simplesmente deixar fluir. Quando distrair, voltar normalmente às respirações. No final, dar uma espreguiçadela. Quando me dei conta, já meditava. Inicialmente só uns 2 minutos e com tempo cheguei quase a 45.
    Também procurei grupos de meditação guiada e fui a várias escolas, acabei por me identificar mais com a budista com o treino da mente e alguns textos da filosofia de Buda mas sem exageros. E sempre que posso vou a uma sessão guiada (existem sessões pagas e outras grátis.), meditar em conjunto tem uma energia muito boa. ( Cheguei a ir a um grupo de meditação Vedanta que pareciam os Nazis da meditação... tinha de ser feita a horas certas (acho q era às 4 /6h da manhã), virados para norte ou sul já não sei bem, sentados sempre em lotus e ainda virados para um altar xpto com uma série de exigências. Horrível, esse tipo de meditação é para quem quer entrar a sério na religião Vedanta e até ingressar em conventos, mosteiros ou ashrams, não para o comum mortal que quer apenas meditar e aprender, um grupo completamente desajustado. Eram tão "boas pessoas", que qd lhes disse que não queria continuar mas gostava de receber de volta o dinheiro dos 2 meses que paguei em adiantado e nada, nem sabendo que estava desempregada na altura.)

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