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21 de janeiro de 2018

Glúten e doença auto-imune


Qualquer pessoa que sofre de doença auto-imune tem um interesse genuíno em reverter a progressão da sua doença, seja ela degenerativa ou não. E um dos primeiros passos nesse sentido, reside na eliminação do glúten da sua alimentação.

A Gluten Free Society mostrou a conexão entre doença hepática induzida pelo glúten (hepatite auto-imune) :

"Um total de 111 pacientes (40%) foram diagnosticados com doenças auto-imunes adicionais ... a tireoidite auto-imune foi a doença concomitante mais comum (28 pacientes, 10%). Outras doenças autoimunes concorrentes incluíram vitiligo (5 pacientes), artrite reumatóide (5 pacientes), Síndroma de Sjogren (4 pacientes), colite ulcerosa (2 pacientes), diabetes tipo I (2 pacientes), esclerose múltipla (2 pacientes), polimialgia reumática (2 pacientes) e urticária (2 pacientes). E ainda um paciente foi diagnosticado com doença de Crohn, um com gastrite auto-imune, um com colite colagenosa, hipofisite e sarcoidose ".

Felizmente, cada vez mais médicos, principalmente os de medicina funcional, recomendam que se adote um estilo de vida mais clean, isento de glúten, sobretudo na presença de condição auto-imune. Claro que inicialmente, se instala a confusão pois toda a vida ouvimos dizer que os cereais são benéficos e ainda mais com o aparecimento dos cereais integrais, "mais saudáveis", dizem eles. Coloca-se a questão se efectivamente se deve eliminar o glúten, quando não se tem sintomas ao nível digestivo ou se os resultados para sensibilidade ao glúten, deram negativos.

O glúten pode ser sorrateiro e nem sempre causa sintomas imediatos e eliminá-lo nem sempre faz com que se sinta melhor imediatamente. No entanto, a maioria das pessoas com uma condição auto-imune deve aderir a um estilo de vida sem glúten.

O glúten desencadeia mecanismos que levam à doença - mesmo se os testes deram negativo para a sensibilidade ao glúten. Aqui estão os principais motivos pelos quais o glúten e a doença auto-imune não se entendem.

Glúten desencadeia a inflamação

A inflamação crónica tem sido implicada em quase todas as doenças crónicas - incluindo doenças auto-imunes. Por outras palavras, se você tem um problema de saúde crónico, você provavelmente teve ou tem inflamação no seu corpo há muitos anos. A inflamação a longo prazo pode desencadear a doença auto-imune devido ao dano que causa às células.

Situações como stress, as escolhas de alimentos e estilo de vida, a toxicidade no nosso ambiente e as infecções crónicas contribuem para a inflamação crónica,são estudadas como as causas profundas da doença auto-imune. A inflamação piora os sintomas e a progressão das condições auto-imunes. É preciso reduzir a inflamação geral e induzir mecanismos anti-inflamatórios para ajudar a reverter o processo auto-imune. E uma das decisões a tomar, é deixar de consumir glúten.

Como uma nota lateral, é muito importante que tenha em mente que os alimentos rotulados sem glúten - como "pão sem glúten" e "biscoitos sem glúten" - podem continuar a ser muito inflamatórios. Isso ocorre porque as alternativas ao glúten utilizadas nesses produtos - como o tofu e o amido de batata - podem ser ainda mais inflamatórias do que o glúten, já para não falar de todos os aditivos presentes.

O glúten altera a microbiota intestinal 

A microbiota intestinal é composta por todos os microorganismos - as bactérias boas e más - que vivem no aparelho digestivo. As pesquisas continuam a revelar que o nosso microbioma intestinal desempenha um papel crítico no desenvolvimento da doença. Estudos até sugeriram que a auto-imunidade pode ser desenvolvida a partir de um desequilíbrio no nosso microbioma intestinal - também conhecido como disbiose.

É por isso que melhorar a saúde intestinal se torna primordial, se tiver uma condição de saúde auto-imune ou crónica (mesmo que não tenha sintomas digestivos). E, a comida é uma das formas mais rápidas de alterar o microbioma. Estudos sugerem que a composição bacteriana do intestino pode mudar rapidamente somente depois de horas de comer determinados alimentos.

Na íntegra, quando come alimentos de forma consistente para alimentar as bactérias boas no seu intestino, estará a regenerar a sua microbiota. O glúten influencia negativamente o seu microbioma intestinal e pode influenciar diretamente o desenvolvimento e progressão da doença auto-imune.

O glúten certamente não é o único que influencia os micróbios no seu intestino. Outros tipos de alimentos, stress, medicamentos e infecções crónicas também podem influenciar que tipo de bactérias proliferam no aparelho digestivo. No entanto, o glúten altera negativamente o microbioma e estas mudanças nas bactérias já alteradas podem estar a influenciar a sua condição auto-imune.

O glúten promove o intestino permeável

Outra das razões pela qual se deve eliminar o glúten, é porque o seu consumo contribui para o o intestino permeável. Esta situação ocorre quando o revestimento do  aparelho digestivo fica danificado e perde sua capacidade de funcionar correctamente, criando "buracos" no revestimento dos intestinos que não deveriam estar lá.

Se sofre de intestino permeável , as partículas que não devem entrar na corrente sanguínea e circulam por todo o corpo que atravessam o revestimento intestinal. Quando isso acontece, o sistema imunológico visa essas moléculas gerando uma resposta inflamatória. Acredita-se que este seja um dos mecanismos para o desenvolvimento de doenças auto-imunes.

No seu estudo histórico de 2009, o dr. Alessio Fasano, sugeriu que três situações devem estar presentes para uma condição auto-imune a desenvolver: uma predisposição genética, um gatilho e um intestino permeável. E ainda sugeriu que o glúten desencadeia directamente a libertação de zonulina, a molécula que quebra as junções apertadas (ou a cola) que retém nosso revestimento intestinal.

Por outras palavras, o glúten causa um intestino permeável. E um intestino permeável cria a oportunidade para o "gatilho" entrar na corrente sanguínea, facilitando o desenvolvimento de doenças auto-imunes. Quando remove o glúten da sua dieta e implementa abordagens saudáveis e anti-inflamatórias, como adoptar o Protocolo Auto-imune,  pode curar e regenerar o seu corpo.

Mimetismo molecular

O mimetismo molecular basicamente significa que duas moléculas ou substâncias se parecem - uma simula a outra. Acredita-se que este seja um mecanismo fundamental para desencadear a auto-imunidade no corpo. Algo estranho ao nosso corpo - como um vírus, bactérias ou partículas de alimentos - compartilha uma estrutura molecular semelhante a uma parte do nosso corpo - como o tecido da tiróide.

Quando partículas estranhas entram na corrente sanguínea (muitas vezes por causa do intestino permeável), o corpo cria anticorpos contra essa partícula. Ele diz ao sistema imunológico para "destruir" ou livrar-se dele. O problema ocorre quando seu próprio tecido corporal se assemelha à mesma estrutura molecular que a partícula estranha.

O corpo fica confuso e pode criar anticorpos para o seu próprio tecido corporal. E os anticorpos para o seu próprio corpo conduzem a doenças auto-imunes. O glúten e a auto-imunidade não se misturam devido a essa interacção potencial.

Estudos demonstram  que os anticorpos contra a gliadina (uma proteína no glúten) reagem com vários tecidos corporais diferentes. Também é conhecido como "reatividade auto-imune da comida" e foi visto quando os anticorpos contra o glúten reagem com os tecidos da tiróide, do cérebro, do sistema nervoso e das articulações.

Por outras palavras, se seu corpo é sensível ao glúten, você está criando anticorpos contra partes da molécula de glúten, como a gliadina. Estes mesmos anticorpos anti-gliadina podem juntar-se aos tecidos no seu corpo, indicando-os para serem destruídos.


Ao remover o glúten da sua rotina alimentar, não criará mais esses anticorpos anti-gliadina e terá menos chances de criar esse tipo de resposta.

 “O médico do futuro não dará remédios, mas interessará os pacientes nos cuidados com o corpo humano, a nutrição, e nas causas e prevenções de doenças”.

Fontes:
https://www.huffingtonpost.com/entry/4-reasons-gluten-and-autoimmune-disease-dont-mix_us_599c7abfe4b0521e90cfb5a3
https://www.glutenfreesociety.org/gluten-and-the-autoimmune-disease-spectrum/
https://drjulianopimentel.com.br/dores/intestino-permeavel-gluten/
http://asagadotrigo.blogspot.lu/2014/07/gliadina-proteina-do-gluten.html

16 de agosto de 2017

Aditivos alimentares - o seu papel na Fibromialgia

Poucas condições de saúde são tão incompreendidas quanto a Fibromialgia. Ao contrário da tendinite ou artrite, em que a fonte da dor geralmente é fácil de entender por ser visível ou palpável, a Fibromialgia continua a ser um pouco misteriosa, assim como os fatores que a causam. Também por essa razão muitas pessoas, infelizmente também ligados à saúde, não reconhecem a Fibro como uma condição de saúde real e bem dolorosa e limitativa.




Embora a causa exacta da Fibromialgia ainda seja uma incógnita, os pesquisadores estão aos poucos a tentar excluir possíveis causas, como traumas físicos e/ou emocionais, distúrbios do sono e até certas doenças. Pesquisas recentes sugeriram que outro factor pode estar a contribuir para a dor na Fibro:  os aditivos alimentares.

Cada vez se ouve mais falar dos aditivos alimentares, da sua importância na nossa alimentação e de como se reflecte na nossa saúde e qualidade de vida. Estes são constantemente colocados nos nossos alimentos para melhorar o sabor, a cor ou outras características superficiais, incluindo aumentar a sua durabilidade. Esses aditivos alimentares, como o Glutamato monossódico ou GMS, entre outros, causam problemas graves que são muito difíceis de detectar nos seus estágios iniciais.

Glutamato monossódico (GMS) - O GMS é um aditivo utilizado para dar melhor sabor aos alimentos. A sua utilização tem sido controversa desde 1960, quando algumas pessoas apresentaram vários sintomas, como dores de cabeça, dor no peito, sudorese e muitos mais após a ingestão desse produto. De acordo com a revista científica Yale, descobriram-se efeitos comprovadamente prejudiciais à saúde. Este aditivo pode ser encontrado nos seguintes alimentos:

- Molhos e condimentos prontos, enlatados ou instantâneos
- Caldos para carnes, aves e peixes
- Alimentos em conserva já cozinhados
- Comidas prontas ‘diet’
- Snacks industrializados como batatas fritas, etc
- Carnes e linguiças curadas e defumadas
- Temperos e especiarias prontos e industrializados
- Comida congelada
- Ketchup
- Proteína vegetal hidrolisada
- Sopas em pó ou enlatadas



Na maioria dos países, o glutamato monossódico é obrigado a aparecer  na lista de ingredientes dos alimentos industrializados. Normalmente estará no final da lista e em quantidades pequenas. Mais sobre o glutamato aqui.

Xarope de milho com alto teor de frutose - Feito a partir do milho geneticamente modificado, este substituto do açúcar é encontrado em quase todos os refrigerantes e diversos doces. Este tipo de açúcar artificial não existe naturalmente e é 20 a 70% mais barato do que o açúcar. No entanto, de acordo com o Global Healing Center, traz grandes riscos como hipertensão, diabetes tipo 2, problemas no fígado e exposição ao mercúrio. Também citou um estudo realizado pela Universidade de Princeton, no qual descobriram que os ratos que consumiram esse xarope ganharam gordura 300% mais rápido do que aqueles que comeram açúcar obtido de frutas in natura.


Gorduras trans - A gordura poli-insaturada existe em alguns alimentos naturais, com em certos peixes – sardinha, salmão e outros – e vegetais – girassol, soja, linhaça e outras -, e é extremamente benéfica para o organismo, devido à sua capacidade de auxiliar inúmeras funções, como a cardíaca, a vascular, a hepática, a ocular, a hormonal e outras. O problema surge quando ela é transformada artificialmente, em escala industrial, através de um processo de hidrogenação, no qual hidrogénio gasoso e níquel são adicionados, resultando num produto final altamente prejudicial, já que prejudica uma série de órgãos e funções, como o fígado, o sistema vascular, o coração, os intestinos e outros. Foi utilizada em escala massiva para a produção de margarina, durante anos, e ainda é utilizada em salgadinhos, bolos, biscoitos, batatas fritas etc. Houve muita polémica durante a mania fat-free, na década de 1980-1990, quando se tentou utilizá-la em alimentos com baixo teor de gordura, como na margarina para substituir a manteiga, porque se supunha que a manteiga e outros alimentos ricos em gorduras saturadas eram os vilões do colesterol elevado. Mas, depois de anos de danos à saúde das pessoas, descobriu-se que a margarina e outros alimentos feitos com gorduras trans foram desastrosos para a saúde, inclusive piorando os níveis de colesterol que se supunha combater através de seu uso.


No corpo a gordura trans reduz o colesterol bom e aumenta o colesterol mau. Ainda assim, a Food and Drug Administration (FDA) permitiu a omissão da rotulagem de gordura trans nas embalagens dos alimentos, quando o produto continha menos de meio grama por porção. Mas em 2015 a FDA tomou medidas: deu um período de 3 anos ao longo do qual as indústrias alimentares terão de reduzir o uso deste tipo de gordura nos produtos. Confirme sempre a lista de ingredientes: caso tenha gordura hidrogenada, escolha outra opção ou, se optar por ingerir o produto, ao menos sabe que está a fazer uma escolha consciente!

Organismos Geneticamente Modificados (OGM) - De acordo com uma grande reportagem feita pela Fox News, os cultivos transgénicos OGM têm-se mantido no mercado desde 1995 e são: milho, soja, algodão e canola, chamados de os “quatro grandes”. A Fox citou uma pesquisa feita sobre o consumo de OGM por diferentes animais, que apresentaram problemas no intestino delgado, nos pulmões, rins e fígado, e inflamação do cólon. São organismos manipulados geneticamente, de modo a favorecer características desejadas, como a cor, tamanho etc. OGMs possuem alteração em trecho(s) do genoma realizadas através da tecnologia do DNA recombinante ou engenharia genética.

Na maior parte das vezes que se fala em Organismos Geneticamente Modificados, estes são organismos transgénicos. OGMs e transgénicos não são sinónimos: todo transgénico é um organismo geneticamente modificado, mas nem todo OGM é um transgénico. Um transgénico é um organismo que possui uma sequência de DNA, ou parte do DNA de outro organismo, pode até ser de uma espécie diferente. Enquanto um OGM é um organismo que foi modificado geneticamente, mas que não recebeu nenhuma região de outro organismo. Por exemplo, uma bactéria pode ser modificada para expressar um gene bem mais vezes. Isso não quer dizer que ela seja uma bactéria transgénica  mas apenas um OGM, já que não foi necessário inserir material externo. Sempre que inserimos um DNA exógeno num organismo esse passa a ser transgénico.
Os riscos associados ao consumo destes OGM verificam-se de forma diversa, consoante o sexo e a dose, sobretudo ao nível do fígado e dos rins, bem como do coração e das glândulas supra-renais. Todas as variedades apresentaram resíduos de pesticidas que estarão presentes na alimentação humana e nas rações animais, colocando em perigo a saúde pública.
Os investigadores apelaram à proibição imediata da importação e cultivo destes OGM e recomendam estudos dos efeitos a longo prazo (até dois anos) e multigeracional em pelo menos três espécies de animais para se chegar a conclusões cientificamente válidas e definitivas sobre o efeito tóxico dos Organismos Geneticamente Modificados. O CRIIGEN denunciou também as agências francesas e europeias de segurança alimentar por terem considerado os produtos em causa como estando livre de riscos, baseados apenas em 90 dias de testes em ratos de laboratório. Os cientistas dizem também que existe um conflito de interesses e incompetência destas instituições para reanalisarem os dados presentes neste estudo, uma vez que já deram parecer favorável com base nos mesmos testes, ignorando os efeitos secundários. O trabalho destes investigadores foi considerado o maior e mais detalhado estudo dos efeitos destas três variedades OGM na saúde dos mamíferos. Mas só foi possível após os governos europeus terem conseguido os dados em bruto dos testes da Monsanto, disponibilizando-os publicamente para o escrutínio da comunidade científica.
Aspartame - É encontrado na maioria dos refrigerantes diet e pastilhas elásticas. É um adoçante artificial usado como substituto do açúcar. Foi criado a partir de um produto químico tóxico e apressadamente aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), talvez porque seja produzido por uma das maiores multinacionais do mundo, a Monsanto. O aspartame foi descoberto acidentalmente em 1966, quando um cientista lambeu os dedos depois de ter tocado acidentalmente num produto químico entornado de uma garrafa. A polémica sobre a aprovação da FDA acontece porque os efeitos tóxicos do aspartame foram reconhecidamente comprovados. De acordo com uma carta escrita à FDA pelo Centro de Informações da Toxicidade do Aspartame, o produto tem vários efeitos colaterais prejudiciais à saúde, afectando o pâncreas, o cérebro, o sangue, causando tumores e até leucemia.
Num estudo feito por médicos italianos, utilizando 1.800 cobaias, no qual se administrava aspartame às mesmas diariamente, constatou-se que um quarto das cobaias (450 cobaias) desenvolveu leucemia. Antes desse, num outro teste, filhotes de macaco consumiram aspartame no leite, 70% deles tiveram convulsões. Outro teste concluiu que o produto causou danos cerebrais em ratos de laboratório. Ainda assim, o aspartame tem sido introduzido em inúmeros alimentos livremente e com aprovação dos órgãos que deveriam zelar pela saúde das pessoas.
O que fazer?
A fim de combater adequadamente qualquer doença, é importante garantir que a dieta seja a mais correta. "Nós somos o que comemos", é uma máxima que pode ser aplicada não só aos ginásios, mas também aos hospitais. Um dos problemas mais comuns que se observa em pessoas que sofrem de Fibromialgia é a alteração profunda no funcionamento do seu sistema gástrico. A síndrome do intestino irritável é muito comum entre os pacientes com Fibromialgia e doenças auto-imunes.

Os efeitos nocivos dos aditivos alimentares tendem a acumular-se ao longo do tempo e manifestam-se já tarde demais. É importante evitar os aditivos alimentares tanto quanto possível, a fim de minimizar o risco de desenvolver Fibromialgia ou outra doença mais tarde na vida. É importante fazer mudanças significativas no estilo de vida, e uma das mais importantes é a dieta. Numa dieta saudável e equilibrada não há espaço para aditivos alimentares. Consuma mais verduras e legumes frescos, fruta fresca e de época, carne e peixe de boas origens, boas gorduras.

Para saber mais sobre alimentação paleo e como ela interfere positivamente na nossa saúde, veja aqui e aqui.

31 de julho de 2017

Kombucha - preparação passo a passo

A (ou o) Kombucha (pronúncia: "kombutcha"), ainda, Kombuchá, é uma bebida probiótica obtida tradicionalmente a partir da fermentação do chá (Camellia Sinensis) ou infusões ricas em cafeína (pelo método não tradicional). Para a fermentação, prepara-se o chá, normalmente preto ou verde, mas pode ser qualquer infusão, desde que seja doce. Depois de pronto e já arrefecido, inocula-se a solução com um líquido acidificante ou vinagre proveniente de fermentações anteriores e a zoogléia ou bolacha (ou do inglês SCOBY - Symbiotic Culture Of Bacteria and Yeast). Tudo isto é deixado em repouso para o processo de fermentação da bebida. Após alguns dias, quando quase todo o açúcar terá sido consumido para dar lugar às várias enzimas, vitaminas e ácidos, contudo, a bebida estará com um sabor ácido, mas, ainda, levemente doce e estará pronta a ser consumida.


História 

O primeiro relato de produção e consumo de kombucha vem da China, em 221 a.C., durante a Dinastia Tsing. A Kombucha vem sendo cultivado por milhares de anos por várias culturas, tendo menções na Bíblia (Rute 2:14) onde o proprietário de terras Booz convidou Rute durante sua colecta de grãos: "Vem cá e come um pouco de pão e mergulha teu bocado na bebida de vinagre! E ela se sentou ao lado dos ceifadores; e ele lhe alcançou cereal torrado e ela comeu e se saciou e ainda sobrou." Este relato bíblico de cerca do ano 1000 a.C. não somente nos dá uma indicação de seus hábitos nutricionais exemplares, apesar de serem modestos de acordo com a nossa perspectiva, também vemos que, mesmo naquele tempo, as pessoas preparavam, com microorganismos, bebidas com ácido láctico e como elas serviam às pessoas como energia e refresco durante os árduos trabalhos da colheita. Durante as décadas de 1960 e 1970 a bebida tomou proporções globais, quando os hippies adeptos de práticas nutricionais naturais, difundiram o uso do chá fermentado. Em 2015, o mercado de kombucha foi estimado em US$600 milhões.

O nome kombuchá vem de uma crença ocidental de que a colónia ou biofilme era na verdade uma alga marinha chamada kombu, e pelo facto de na Índia, os chás provindos da Camellia sinensis serem chamados de cha ou chai. Descobriram depois que a colónia não era a tal alga, mas o nome já tinha sido popularizado.

Características

É uma bebida probiótica rica em ácidos, vitaminas e açúcares simples e ajuda a regenerar a microbiota intestinal.

Kombucha é uma colónia composta de microorganismos aglomerados numa massa de celulose parecida com uma panqueca. Tal aglomerado simbiótico recebe o nome português de zoogleia ou biofilme, mas também usualmente chamada de bolacha ou scoby, com os seguintes componentes:

Várias enzimas, ácido acético, ácido carbónico, ácido fólico, ácido glucónico, ácido glucurónico, L(+) láctico, ácido de Usnic, aminoácidos (vários), ácidos hidróxidos (vários), vitamina B1 (tiamina), vitamina B2 (riboflavina), vitamina B3 (niacina, niacinamida), vitamina B6 (pyridoxina), vitamina B12 (cobalamina, cyanocobalamina), vitamina C.

Quando a colónia é colocada num recipiente contendo uma mistura do chá com o açúcar, transforma o líquido numa bebida doce e azeda com uma fragrância frugal muito saborosa que pode fornecer diversos ácidos e nutrientes, excelentes para a saúde. A cultura de Kombucha alimenta-se do açúcar e produz tais produtos finais que ficam na bebida: o ácido glucurônico, ácido acético, ácido glucônico, ácido láctico, vitaminas, aminoácidos, e algumas substâncias antibióticas. Dentre outras substâncias, o álcool de 0.5% a 1% também é produzido, mas não caracteriza bebida alcoólica, caso a fermentação da bebida seja completa é formado o vinagre, que é rico em ácido acético produto da degradação do álcool pelas bactérias assépticas.

Temperatura: A cultura de Kombucha beneficia de um lugar morno (mas não abafado ou húmido). Recomenda-se que a temperatura do chá não caia abaixo dos 10ºC nem se eleve acima dos 30ºC. A temperatura ideal anda ao redor dos 22ºC.

Tempo útil de vida: As bolachas têm tempo de vida ilimitado, podendo durar anos.

Agora vou deixar passo a passo como costumo fazer a minha kombucha, tanto na primeira como na segunda fermentação:

Primeiro passo:

É preciso ter a colónia. Existem grupos no facebook de doações de probióticos onde podem adquirir a bolacha para iniciar. Eu sugiro estes, Probioticamente e Kefir e Kombucha Portugal - GRUPO DE PARTILHA.

Como tenho já algumas bolachas a fermentar, vejo quais são as que estão "no ponto" para mudar. Costumo deixar para a primeira fermentação, entre 7 a 14 dias, mas depende muito da temperatura. Menos tempo do que isto, deixa a kombucha muito doce (logo com todo o açúcar ainda presente) e mais tempo (para o meu gosto), fica muito ácida. Ao fim de uma semana, começo a ver a consistência e o cheiro, se tiver um cheiro avinagrado, para mim já está bom. Saliento que, no país onde vivo, as temperaturas nunca são muito elevadas, por isso o tempo de fermentação aqui, ronda os 10 dias.

Preparo o material:

Recipiente em plástico para colocar as colónias (eu uso um pequeno alguidar)
Passador de plástico
Funil de plástico
Garrafas de plástico com tampa

Preparo o chá: 

Usando a proporção de:
2 saquetas para cada litro de água e 75g de açúcar para cada litro de água, neste caso, para 4 litros de água, uso 8 saquetas de chá e 300g de açúcar. (uso o branco por ser mais barato).

Vou alternando entre o chá verde e o chá preto, mas o que mais uso é este:



Coloco a água ao lume num tacho ou panela e desligo quando começar a ferver. Deito o açúcar e as saquetas de chá e mexo com uma colher de pau até dissolver o açúcar (aqui já tinha retirado 2 saquetas antes de me lembrar de tirar a foto).



Deixo arrefecer o chá até à temperatura ambiente.

Entretanto destapo as bolachas a mudar. Estão assim:


As colónias com o tempo criam uma capa à superfície e é essa capa que vai engrossando e que vai dar origem a outras bolachas. Mas também podem crescer por baixo. As minhas nem sempre são assim disciplinadas e costumam multiplicar-se por baixo 😆.



Com a mão, retiro as bolachas para o recipiente de plástico e junto um pouco do líquido fermentado. 
Para a fermentação seguinte, convém deixar cerca de 10% do total do líquido por cada litro de chá novo. Neste caso, como tenho 2 frascos de 2 litros, deixo cerca de 400 ml para adicionar na fermentação seguinte. 

As bolachas adquirem o formato do recipiente onde estão a fermentar.



O restante líquido que ficou no frasco, deito directamente para as garrafas de plástico que vou usar para a segunda fermentação. Uso um funil e um passador fino para coar algumas impurezas.
Não encho totalmente as garrafas, deixando espaço para as frutas que vou adicionar e para a própria fermentação.



A seguir preparo as novas fermentações.

Passo os frascos por água e deito o novo chá, sem encher o frasco.



Deixo mais ou menos assim.



Depois deito o líquido fermentado que estava de parte.
Gosto de coar para evitar que entrem impurezas.



Passo as bolachas para o frasco. Se tiverem muitas impurezas, lavo-as debaixo de água corrente.
Aqui dá para ver que existem várias bolachas agarradas umas às outras.



No fim, os frascos ficam assim.




Não fecho os frascos com a mola. Sei que se pode fechar, mas eu deixo só a tampa encostada, com uma folha de papel absorvente de cozinha preso com um elástico para evitar que entrem bichitos ou pó.


E reservo num sítio fresco e escuro, de forma a que não sejam mexidos durante a fermentação.
Aqui a minha "produção" de kombucha😆😆.


Aqui ficam até à próxima muda.

No mesmo espaço deixo as garrafas com a fruta para a segunda fermentação. Nestas garrafas de 1l, deixo normalmente 3 ou 4 dias (para o meu gosto, o tempo ideal). Se as garrafas forem maiores, deixo mais 1 ou 2 dias. 

Findo esse tempo, coloco as garrafas no frigorífico e consumo depois de fresco, normalmente entre 2 a 3 copos por dia.

Também podem consumir a kombucha logo depois da primeira fermentação, colocando logo as garrafas no frio sem as frutas. Pessoalmente não gostei muito, e após ter insistido, dei conta que me dava azia pela acidez.


Fontes: Grupo Probioticamente               https://pt.wikipedia.org/wiki/Kombucha

25 de julho de 2017

A dor na mulher e no homem - discrepância no reconhecimento e tratatamento

Não se trata de nenhum texto feminista, mas hoje tropecei num texto, que me levou a outro e mais outro e resolvi escrever sobre o assunto, em português. Já tive oportunidade de o dizer várias vezes que, de todos os técnicos e terapeutas pelos quais tive que passar, nunca fui menos bem tratada ou menosprezada, sobretudo pelo facto de ser mulher. Mas a verdade e a generalidade, infelizmente, nem sempre é assim.

Por brincadeira dizemos que os homens, se tal fosse possível, não suportariam as dores de parto. E que por norma, são mais "queixinhas" que as mulheres (repito, que isto não é um texto feminista) e que com uma simples constipação, estão com os pés virados para a cova. As mulheres por outro lado, são conhecidas por serem mais resistentes à dor. Mas será que isto não é uma faca de dois gumes? Ora, se por um lado, as mulheres são tidas como mais resistentes à dor, essa dor não deveria ser levada a sério? Ou será que por sermos mais resistentes, temos é que levar com ela e de cara alegre?


Existem diversos estudos que colocam a nu a diferença no tratamento da dor em doentes do sexo feminino e masculino. No estudo levado a cabo pelos professores de direito da Universidade de Maryland, Diane Hoffman e Anita Tarzian, "The girl who cried pain", juntaram mais de 100 estudos através dos Estados Unidos que demonstram a descriminação das mulheres aquando do tratamento recebido para combater as suas dores. Por exemplo, num estudo com doentes de cancro metastizado, as mulheres foram 5 vezes mais negligenciadas nos seus sintomas comparativamente aos homens. Num estudo com 366 doentes com SIDA, os homens receberam tratamentos mais adequados do que as mulheres. Num estudo sobre cirurgias abdominais, os médicos passaram menos analgésicos a mulheres do que a homens. Outro estudo, revela que enquanto que os homens são medicados com narcóticos para tratar as suas dores, as mulheres são medicadas com sedativos. Da mesma forma, as mesmas pesquisas demonstram que os pacientes do sexo masculino recebem constantemente mais tempo e atenção de profissionais médicos do que pacientes do sexo feminino com exactamente os mesmos sintomas. Num teste para examinar este preconceito de género conduzido por D. McDonald e R.G.Bridge em 'Estereótipos de género e cuidados de enfermagem', as enfermeiras receberam vinhetas com pacientes imaginários, listando os seus supostos sintomas e histórico médico. As enfermeiras foram então convidadas a calcular quanto tempo o paciente exigiria para tratamento e suporte emocional. Os pacientes do sexo masculino receberam consistentemente mais tempo, mesmo quando tiveram os mesmos sintomas e antecedentes que os pacientes do sexo feminino.

Histeria (do francês hystérie e este, do grego ὑστέρα, "útero"). O termo tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro. Essa parece ser uma das razões da existência do equivoco de que as mulheres são mais emocionais, logo mais irracionais. Mas nos tempos modernos, onde a informação viaja à velocidade de um click, já é tempo que se mudem mentalidades.

Esses mesmos estudos demonstram que baseado nesse preconceito, nos hospitais, a dor nas mulheres é relativizada, as mulheres recebem menos tempo de tratamento e são alvos mais fáceis para diagnósticos errados, precisamente porque a sua dor é considerada como emocional. E isso acontece, mesmo depois de se provar que as suas dores têm razão de ser. Uma pesquisa levada a cabo por J. Crook e E. Tunks à qual deram o nome de "Women with Pain", confirma que as mulheres com condição de dor crónica têm mais probabilidades de serem mal diagnosticadas com perturbações mentais do que os homens, e são-lhes receitados mais drogas psicotrópicas, uma vez que os médicos relacionam os seus sintomas com histeria.

Esta confusão errada com a saúde mental acontece devido aos estereótipos sexistas de que as mulheres são "irracionais" ou "emocionais", o que significa que os médicos acham mais fácil acreditar que as expressões de dor das mulheres não têm base física. Por outro lado, os homens são vistos como mais racionais e quando dizem que estão a sentir dor aguda, os médicos tomam seus sintomas a sério como tendo uma causa física, em vez de assumir uma base emocional.

A divisão de género no diagnóstico traz sérias implicações no tratamento, o que significa que homens e mulheres recebem cuidados diferentes em hospitais pelas mesmas condições e sintomas. A pesquisadora Karen Calderone descobriu que quando homens e mulheres têm os mesmos sintomas, as mulheres são mais propensas a receber sedativos como tratamento, em vez de drogas para aliviar a dor. Isso sugere que elas são tidas como sendo mais "ansiosas" em detrimento da dor que realmente sentem e os médicos se concentram em canalizar as mulheres para um estado "calmo e racional" em vez de aliviar a sua dor real.

Isto comprova como a sociedade se sente desconfortável com as mulheres "emocionais" e procura inibir o seu comportamento caótico através da sedação, em vez de abordar a verdadeira causa da sua angústia. Significa que as mulheres ficam com dor severa por mais tempo do que os homens, pois os sedativos podem fazê-las parecer mais calmas do lado de fora, enquanto continuam a sentir a dor de forma aguda. Por essa razão ficam em desconforto extremo por períodos mais longos e podem demonstrar sintomas sérios relacionados a outras condições que podem passar despercebidos e não diagnosticados, pois estão demasiado dormentes e calmas para que os mesmos médicos possam lhes dar importância.

Outra tendência perturbadora nas pesquisas médicas, descobriu que em determinados casos, quanto mais atraente for a doente, menos tratamento ela recebe. No trabalho de pesquisa "Beautiful Faces in Pain", T. Hadjistravropoulos descobriu que devido ao estereotipo de que "o belo é mais saudável", os médicos subconscientemente assumem que pessoas que parecem "melhores" por fora, são mais saudáveis ​​e, posteriormente, exigem menos tratamento. Como o sexismo nas hierarquias de pessoal significa que os homens são mais propensos a ser os que ocupam posições seniores que tomam decisões sobre os pacientes e os homens são predominantemente heterossexuais, é possível subestimar a dor das mulheres devido a esse preconceito de "atractividade".

O mundo clínico há muito que se orgulha de proporcionar imparcialidade e objectividade em comparação com outras áreas da vida devido à dependência de factos objectivos e científicos. Mas a quantidade emergente de pesquisas nesse campo sugerem que o sexismo pode ser perpetuado em salas hospitalares e salas operacionais, tanto quanto em qualquer outro lado da sociedade e uma barreira real para as mulheres que procuram os cuidados de saúde.

Autora e professora na Northeastern University e também ela doente crónica, Laurie Edwards publicou um artigo no "The New York Times- The Gender Pain Gap", muitas vezes usado como referência neste tipo de tópicos. Nomeando várias pesquisas e estudos, a Dra. Edwards conclui que além de todos estes preconceitos, as mulheres que sofrem de Fibromialgia ou de Síndroma de Fadiga Crónica, ou de outros problema de saúde não visíveis e para os quais não há nenhum exame específico para o seu diagnóstico, ainda são mais descredibilizadas. Por inúmeros factores, os médicos apressam-se a diagnosticar uma mulher com Fibromialgia quando se depara perante um quadro menos claro de sintomas. É mais fácil "catalogar" com uma doença que apresenta sinais muitas vezes dúbios e/ou pouco consistentes, do que continuar a estudar o paciente que tem à sua frente e perceber o que de facto está errado na sua saúde. Por essa razão também, tem aumentado o cepticismo na legitimidade deste tipo de condições físicas. 

As pesquisas concluem que diferenças entre homens e mulheres existem na experiência da dor, com as mulheres a relatar e a sentir dores mais frequentes e mais intensas. No entanto, ao invés de receber um tratamento em conformidade ou pelo menos tão eficaz para a dor como acontece com os homens, as mulheres são mais propensas a serem menos bem tratadas do que os homens pelos seus sintomas dolorosos. O foco da medicina em factores objectivos e seus estereótipos culturais de mulheres combinam de forma insidiosa, deixando as mulheres em maior risco no alívio da dor e sofrimento contínuo. É urgente haver uma maior consciência entre os prestadores de cuidados de saúde, um reajuste da preocupação da medicina com factores objectivos através da educação sobre abordagens alternativas e o escrutínio por qualidade e revisores éticos dentro das instituições de saúde. A voz da mulher quanto ao tratamento da dor, deve ser ouvida tal qual ela é.

Fontes:

24 de julho de 2017

Síndroma de Sjögren

Depois de ter levado o "carimbo" da Fibromialgia, apareceram outros sintomas que, em situações normais, estão associados aos efeitos secundários da própria medicação para a Fibro. Mas uma vez que eu não estava a fazer a medicação recomendada (Cymbalta e Lyrica), a secura acentuada dos olhos, boca e vagina, não podiam ser efeitos secundários, mas sim, sintomas de mais uma gracinha que o meu corpo insiste em pregar-me.

Foi a Reumatologista que sugeriu que poderia ter a Síndroma de Sjögren, nome que até ali nunca tinha ouvido falar. Muitas pessoas não associam os sintomas a uma nova doença porque se habituaram a atribuir as culpas de todos os sintomas à Fibromialgia. Mas é preciso estar atento a tudo o que acontece e dar a devida importância à nossa saúde.


O que é?

O sintoma característico da síndrome de Sjögren é uma secura generalizada, geralmente incluindo xerostomia (boca seca) e ceratoconjuntivite seca (olho seco), parte do que é conhecido como sintomas de secura. A síndrome de secura também incorpora a secura vaginal, bronquite crónica e não tem sinais de artrite. A síndrome de Sjögren pode causar secura da pele, nariz e vagina, e pode afectar outros órgãos do corpo, incluindo os rins, vasos sanguíneos, pulmões, fígado, pâncreas, sistema nervoso periférico e o cérebro. A secura acentuada da pele em alguns pacientes de Sjögren podem ser o resultado de infiltração linfocitária em glândulas da pele. Os sintomas desenvolvem-se de forma insidiosa, e o diagnóstico não é considerado por vários anos devido as queixas de seca serem atribuídas aos medicamentos, um ambiente seco, envelhecimento, ou acredita-se ser muito insignificante para prosseguir. 

Secura da boca - A secura da boca, denominada “xerostomia”, é um sintoma frequente na população geral, habitualmente causado pela diminuição da quantidade ou qualidade da saliva. Quase todos os doentes com Síndroma de Sjögren têm algum grau de xerostomia. Além do Síndroma de Sjögren, a xerostomia pode ser causada por outras doenças crónicas, como a diabetes, a sarcoidose, a hepatite C e a depressão, bem como por medicamentos (anti-depressivos, anti-alérgicos, diuréticos) ou outros tratamentos médicos (irradiação da cabeça e pescoço, transplante de medula óssea). 


Para se compreender as consequências da escassez de saliva, é necessário conhecer as suas propriedades e funções. A saliva é um fluido corporal essencial para a protecção da cavidade oral e do seu funcionamento. A saliva é produzida por 3 pares de glândulas principais ou “major” – parótidas, submaxilares e sublinguais – e centenas de pequenas glândulas “minor”, milimétricas, distribuídas por toda a boca. A saliva é principalmente constituída por água, mas contém mais de 60 substâncias, tendo como principais funções:

Proteger, lubrificar e limpar a mucosa oral
Auxiliar a mastigação, deglutição e a fala
Proteger os dentes da erosão
Proteger a boca, dentes e garganta das infecções por bactérias, fungos ou vírus Suportar e facilitar o sentido do paladar

Se a redução da saliva se mantiver por muito tempo, irão surgir problemas como dificuldade na mastigação e deglutição, rápida degradação dos dentes e infecções da boca (sobretudo por fungos)

Deste modo, é fundamental identificar os primeiros sinais ou sintomas de secura oral. O dentista tem um papel fundamental na detecção precoce da xerostomia, avaliando o volume de saliva acumulado debaixo ou à volta da língua (se for pequeno ou ausente, indica que a pessoa está com défice de saliva) ou a presença de cáries na base dos dentes junto às gengivas ou na superfície de mastigação dos dentes. 

Os sintomas de boca seca podem incluir dificuldade em mastigar ou engolir a comida sem a ajuda de líquidos (sobretudo alimentos secos), alterações do paladar, dor ou sensação de ardor na boca e dificuldade em falar. 

Secura dos olhos - A secura dos olhos, denominada “xeroftalmia”, é frequente na população, podendo ser causada por redução da produção de lágrima e por perda de lágrima por evaporação excessiva. Ambas levam a desconforto ocular, que pode ser descrito como secura, ardor, sensação de areia ou prurido. Vista cansada, sensibilidade à luz ou visão turva são também características do olho seco. 

As lágrimas normais, em pessoas saudáveis, são constituídas por uma mistura complexa de proteínas e outros componentes que são essenciais para a saúde e conforto oculares. As lágrimas são importantes porque fornecem nutrientes e suportam as células da córnea (a estrutura transparente na parte anterior do olho), lubrificam a superfície ocular, e protegem das infecções a superfície exposta do olho. A visão nítida também depende da distribuição regular das lágrimas sobre a superfície do olho. 

Nos doentes com Síndroma de Sjögren, a inflamação das glândulas lacrimais reduz a produção de lágrimas e altera a sua constituição, originando secura dos olhos. Em pessoas com olho seco, surgem áreas de reduzida espessura do filme lacrimal, e assim as lágrimas já não protegem nem suportam a saúde das células da superfície ocular.

Manifestações sistémicas - São manifestações causadas pela extensão do processo inflamatório a estruturas não-glandulares, pela acção de linfócitos (um tipo de glóbulos brancos) e moléculas associadas ao sistema imunitário (anticorpos, citocinas e factores do complemento). Globalmente, são pouco frequentes, estimando-se que surjam em cerca de 25% dos doentes. Não se consegue prever se uma determinada pessoa irá ser afectada por este tipo de manifestações, nem em que altura, embora se saiba que o risco é maior em pessoas que demonstrem sinais de doença mais “activa” – aumento das glândulas salivares, marcadores de inflamação elevados, altos níveis de imunoglobulinas, ocorrência prévia de envolvimento extra-glandular ou anticorpos típicos da doença. 

Pode ocorrer inflamação articular, denominada artrite, que se caracteriza pela presença de dor predominante em repouso, com rigidez articular matinal e após períodos de imobilização, e tumefacção (“inchaço”) das articulações. A artrite no Síndroma de Sjögren é habitualmente menos extensa e agressiva do que a Artrite Reumatóide, e não é destrutiva para as articulações, embora possa ser persistente e em casos raros levar a algum grau de deformação articular. No entanto, a maioria dos doentes com Síndroma de Sjögren e dor articular não têm artrite, apenas “artralgias” (dor nas articulações), que podem estar relacionadas com a doença ou com outro problema coexistente, como a osteoartrose. 

A inflamação dos músculos (miosite) é rara, e manifesta-se por diminuição progressiva da força muscular, que deve ser distinguida da fadiga (na qual não há evidência de inflamação muscular). 

O envolvimento do aparelho respiratório pode ocorrer sob a forma de tosse seca (por secura da traqueia e grandes brônquios), síndroma obstrutivo semelhante à asma e à bronquite crónica (por inflamação dos pequenos brônquios) ou inflamação do tecido pulmonar alveolar (onde ocorrem as trocas gasosas) e intersticial (onde se localizam as pequenas veias e artérias pulmonares) com dificuldade respiratória e intolerância aos esforços. 

O sistema nervoso também pode ser afectado. Os nervos (que constituem o Sistema Nervoso Periférico) afectados perdem a sua capacidade de transmitir as sensações ou ordenar o movimento, originando diminuição ou alteração da sensibilidade (formigueiro, dor em queimadura ou sensação de choques), paralisias locais (pé pendente, paralisia facial) ou alterações do equilíbrio e da coordenação motora. Quanto ao cérebro e à medula (Sistema Nervoso Central), nos raros casos em que são atingidos, surgem enfartes cerebrais, inflamações difusas do cérebro ou de toda a espessura da medula. 

O envolvimento renal é pouco frequente, sendo típica a nefrite intersticial (inflamação da zona onde se realiza o equilíbrio da concentração e conteúdo da urina), que resulta em alterações na constituição do sangue. Pode também ocorrer glomerulonefrite (inflamação das estruturas onde o rim “filtra” o sangue), levando a perda de proteínas, edemas das extremidades e aumento da pressão arterial. 

Pode ocorrer vasculite (inflamação dos vasos sanguíneos) que habitualmente atinge as arteríolas (pequenas artérias) e capilares, manifestando-se principalmente por lesões da pele, dos nervos periféricos ou do rim. 

História

Johann von Mikulicz-Radecki (1850-1905) é creditado geralmente com a primeira descrição da síndrome de Sjögren. Em 1892, ele descreveu um homem de 42 anos com o alargamento das glândulas parótidas e lacrimais associadas a um infiltrado de células redondas. No entanto, os critérios que contemplam a síndrome de Mikulicz muitas vezes levaram a um diagnóstico errado, porque muitas doenças, tais como a tuberculose, infecções, sarcoidose, e linfomas, podem apresentar-se em condições semelhantes às intituladas da síndrome de Mikulicz. No entanto, o termo síndrome de Mikulicz ainda é usado ocasionalmente para descrever o aparecimento de infiltrações linfocitárias em glândulas biópsias salivares.

No entanto, em França, o termo síndrome de Gougerot estava em uso há décadas, como ele descreveu em 1925 três casos de atrofia progressiva das glândulas salivares associadas com olhos secos, boca seca e vagina seca. O trabalho abrangente e importante de Sjögren justifica a designação agora aceita da doença de Sjögren.

Em 1930, Henrik Sjögren (1899-1986), um oftalmologista de Jonkösping, Suécia, observou um paciente com baixas secreções das glândulas lacrimais e salivares. Sjögren introduziu a ceratoconjuntivite seca ao sintoma de olhos secos. Em 1933, ele publicou a sua tese de doutoramento, descrevendo 19 mulheres, a maioria das quais estavam em pós-menopausa e que tinham artrite, mostrando as manifestações clínicas e patológicas da síndrome. Sjögren esclarece que a ceratoconjuntivite seca, resultante da deficiência de água, não tinha nenhuma relação com xeroftalmia, resultante da deficiência de vitamina A. A tese de Sjögren não foi bem recebida pelo Conselho de Examinadores que criticou alguns aspectos clínicos.

Após uma extensa pesquisa e colheita de dados, Sjögren publicou um artigo essencial em 1951, descrevendo 80 pacientes com keratoconjunctivitis sicca, 50 dos quais também tinham artrite.Suas viagens subsequentes de acompanhamento a conferências referentes ao seu trabalho, levaram-no a um interesse internacional na síndrome de Sjögren. O termo keratoconjunctivitis sicca cunhado pelo próprio Sjögren começou a ser identificado como sua síndrome na literatura.

Em 1957, Sjögren tornou-se professor associado - docente - na Universidade de Gotemburgo e em 1961 recebeu o título de professor honorário. Em 1951, foi eleito membro honorário da Australian Ophthalmological Society, em 1970 da American Rheumatism Organization, e em 1876 do Svensk reumatologisk forening e do Royal College of Physicians and Surgeons of Glasgow.

A Confirmação do Diagnóstico 

O Síndroma de Sjögren é uma doença relativamente difícil de diagnosticar, uma vez que as manifestações mais frequentes – secura oral e ocular, entre outras – não são específicas e podem ocorrer em pessoas com outras doenças reumáticas ou sob determinadas terapêuticas, e podem evoluir lentamente, não alertando o doente ou o médico para a possibilidade de existir uma doença responsável pelas queixas. 

Para confirmar o diagnóstico de Síndroma de Sjögren, o Reumatologista fundamenta-se em vários aspectos da história, exame clínico e exames complementares. 

A presença de secura oral, ocular ou de outras mucosas, acompanhadas ou não de outras manifestações comuns em doenças reumáticas sistémicas, como o fenómeno de Raynaud, as aftas orais, a fotossensibilidade ou outras alterações da pele, devem fazer suspeitar de Síndroma de Sjögren. A ocorrência de manifestações extra-glandulares, como artrite, neuropatia, envolvimento pulmonar ou vasculite, numa pessoa com queixas de secura, torna provável o diagnóstico de Síndroma de Sjögren. 

Um grupo internacional de peritos elaborou um conjunto de critérios de classificação para o Síndroma de Sjögren, que pode ajudar os médicos a chegar ao diagnóstico. Estes critérios requerem a presença de queixas de secura oral ou ocular, que deve ser confirmada através de estudos funcionais e obrigam à demonstração de uma base imunológica das queixas secas, mediante a presença de anticorpos anti-SSA e/ou anti-SSB e/ou biopsia de glândula salivar com presença de inflamação característica do Síndroma de Sjögren.

Prognóstico

A síndroma pode lesar órgãos vitais do corpo com sintomas que podem estabilizar ou piorar, mas a doença não sofre remissão, como acontece com outras doenças auto-imunes. Algumas pessoas podem sofrer somente sintomas brandos de olhos e boca seca, enquanto outras podem apresentar sintomas de doença grave. Muitos pacientes são capazes de tratar os problemas sintomaticamente. Outros são forçados a lidar com visão embaciada, desconforto ocular constante, infecções orais recorrentes, glândulas parótidas inchadas, rouquidão e dificuldade em engolir e mastigar. Fadiga e dor articular debilitantes podem prejudicar seriamente a qualidade de vida. Alguns pacientes podem desenvolver comprometimento renal (nefrite tubulointersticial auto-imune) levando a proteinúria, defeitos na concentração urinária e acidose tubular renal distal.

Calcula-se que a doença afecte 0,2% da população mundial. A maior parte das pessoas possui mais de 40 anos de idade no momento do diagnóstico. As mulheres possuem nove vezes mais chances de desenvolver a síndrome, em comparação com homens.

Tratamento

Não há uma cura para a síndroma nem um tratamento específico para restaurar permanentemente a função secretora das glândulas. O tratamento, portanto, geralmente é sintomático e de suporte, com fármacos, lágrimas artificiais, corticosteróides, entre outros. Anti-inflamatórios não-esteróides podem ser usados para tratar os sintomas musculo-esqueléticos.

Abordagem da Xerostomia 

Gerir a secura oral 

Beba pequenas quantidades de água frequentemente para manter a boca húmida, mas evite beber grandes volumes de uma vez, porque remove a camada protectora de saliva.
Evite bebidas ácidas, como refrigerantes ou bebidas energéticas.
Evite a cafeína, porque pode aumentar a sensação de secura oral.
A secreção de saliva pode ser aumentada com pastilhas ou rebuçados sem açúcar ou à base de Xilitol, que é um adoçante que ajuda a prevenir a degradação dos dentes.
Existem vários substitutos salivares de venda livre em farmácias. Estes produtos têm um efeito temporário, sendo úteis sobretudo em pessoas com xerostomia grave.
A secura labial pode ser prevenida com cremes ou batons hidratantes.
Pode utilizar um humidificador para aumentar a humidade ambiente, sobretudo de noite.

-  Prevenir e tratar os problemas dentários 

Lave os dentes após cada refeição e passe fio dental diariamente
Reduza a ingestão de doces, bebidas açucaradas ou alimentos ricos em hidratos de carbono (bolachas, pão, batata).
Vá frequentemente ao dentista, que é o especialista que poderá fornecer instruções mais específicas para a higiene oral e propor o tratamento precoce das lesões dentárias

-  Prevenir e tratar as infecções da boca 

As infecções orais mais frequentes nos doentes com Síndroma de Sjögren são causadas por fungos, sobretudo candidíase, manifestando-se por inflamação da mucosa oral e sensação de ardor na boca. 
O tratamento deve ser iniciado pelo Médico ou Dentista, podendo ser à base de produtos locais ou comprimidos. É frequente o reaparecimento da infecção, com necessidade de repetições do tratamento. 

É importante a prevenção, com limpeza frequente da boca, dentes e dentaduras, para remover restos de comida e potenciais agentes patogénicos. Existem anti-sépticos orais de venda livre que poderão ser úteis. 

Abordagem da Xeroftalmia 

- Lidar com o olho seco 

Altere hábitos, medicações ou factores ambientais que podem prejudicar os olhos. 
Evite ambientes com baixa humidade, fluxos de ar de ventoinhas ou ar condicionado, fumo ou poeiras.
Evite utilização excessiva de maquilhagem.
Se possível, evite medicamentos que originem secura ocular, como alguns anti-hipertensivos, anti-depressivos ou anti-histamínicos.
Evite permanecer muito tempo sem pestanejar, porque leva a uma maior evaporação da lágrima. Isto acontece sobretudo quando vemos televisão, usamos o computador ou lemos, pelo que é importante pestanejar voluntariamente ou fechar os olhos por curtos períodos.
Óculos com protecção lateral ou de lente larga evitam a evaporação da lágrima bloqueando o vento e aumentando a humidade à volta dos olhos.
Utilize lubrificantes oculares para manter os olhos húmidos durante a noite.
Aplique compressas mornas nos olhos, para humedecer os tecidos secos e irritados, e aumentar a secreção de substâncias oleosas pelas glândulas palpebrais.
Mantenha os olhos lubrificados durante o dia, mesmo nas alturas em que não tem sintomas. Não deve esperar pelas queixas para iniciar tratamento, porque pode já ter ocorrido dano da superfície ocular.

- Tratamento da xeroftalmia 

As lágrimas artificiais são de venda livre e podem proporcionar alívio temporário das queixas ocularers. Contém água, sais minerais e polímeros, mas não possuem as proteínas habitualmente presentes na lágrima natural. Existem diversas apresentações, com diferentes constituições e graus de viscosidade, devendo os doentes experimentar várias diferentes até encontrarem as mais eficazes.
A oclusão do canal lacrimal bloqueia o pequeno orifício por onde as lágrimas são drenadas dos olhos. É um procedimento simples, realizado com um tampão de silicone ou outro material, e ajuda a manter as lágrimas na superfície ocular por um maior período de tempo, melhorando os sintomas.
Aplicações tópicas de ciclosporina em emulsão pode ser utilizada para tratamento da inflamação crónica que agrava a secura ocular mediante a perturbação da secreção lacrimal. Apesar de muitos doentes referirem melhoria, é um tratamento dispendioso e de difícil obtenção em Portugal.
A hidroxipropil-celulose é um composto utilizado com lubrificante e protector ocular, que foi recentemente apresentado em formulação de libertação prolongada sob a forma de uma pequena pastilha que se coloca na pálpebra inferior e se dissolve lentamente ao longo do dia. Está recomendada para o tratamento de formas moderadas a graves de olho seco.
A manutenção da higiene e saúde das pálpebras é fundamental para manter uma boa lubrificação ocular. As infecções palpebrais devem ser prontamente tratadas, e problemas cutâneos que possam envolver as pálpebras devem ser identificados e tratados.

-  Abordagem das Manifestações Constitucionais e Sistémicas 

Sendo uma doença reumática sistémica, o Síndroma de Sjögren partilha vários aspectos clínicos com outras doenças reumáticas, como o Lúpus ou a Artrite Reumatóide. Deste modo, o tratamento é considerado não numa base de doença, mas sim de acordo com o tipo e gravidade das manifestações presentes. Existem vários tipos de medicamentos com eficácia nas manifestações do Síndroma de Sjögren, podendo o Reumatologista utilizar um único fármaco ou vários simultaneamente. 

Analgésicos simples, como o Paracetamol ou os Opióides fracos, são utilizados no tratamento de dor articular ou generalizada, com graus variados de sucesso. São habitualmente seguros a longo prazo e por isso utilizados precocemente.

Anti-Inflamatórios Não-Esteróides são uma classe de medicamentos onde se inclui a Aspirina, o Ibuprofeno, o Naproxeno, o Diclofeac e os Coxibes, entre outros. Partilham propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, sendo utilizados em diversas situações de dor, mas sobretudo na artrite. Podem ocorrer efeitos adversos gastro-intestinais, hepáticos e cardio-vasculares, que a maior parte das vezes são evitados mediante terapêuticas protectoras ou adaptação do fármaco ao perfil de risco do doente. Também existem formulações de aplicação tópica – cremes, loções ou sistemas adesivos – que actuam directamente sobre a articulação ou tendão afectado, embora o benefício seja por vezes limitado. 

Corticoesteróides são medicamentos com efeito anti-inflamatório poderoso, podendo ser utilizados em doses altas ou endovenosas para tratamento rápido das raras situações em que há perigo de perda de função de órgão ou risco de morte. São utilizados a longo prazo em doses baixas para manter um baixo nível de actividade na inflamação articular ou no envolvimento sistémico de menor gravidade, sem condicionar aumento significativo da toxicidade.

Fármacos Modificadores da Doença ou “Disease Modifying Anti-Rheumatic Drugs” (DMARDs) são um conjunto de medicamentos não relacionados entre si, mas que partilham a propriedade de reduzir a actividade inflamatória em diversas doenças inflamatórias de natureza auto-imune. No Síndroma de Sjögren são habitualmente utilizados para controlo da inflamação articular e como adjuvantes da corticoterapia, dado permitirem a utilização de doses mais baixas de cortocóides. 

Os mais utilizados são a Hidroxicloroquina (manifestações cutâneas e articulares), o Metotrexato (artrite), a Azatioprina (envolvimento neurológico, pulmonar, renal ou vasculite) e a Ciclofosfamida (vasculite, envolvimento pulmonar ou renal grave, envolvimento do sistema nervoso central). 

Agentes Biológicos são fármacos obtidos através de biotecnologia, que têm como alvo moléculas que desempenham um papel fundamental na amplificação do processo inflamatório. Dos medicamentos biológicos actualmente disponíveis e já utilizados no Síndroma de Sjögren, apenas o Rituximab (que remove linfócitos B) demonstrou alguma eficácia, mas não o suficiente para que o seu uso seja recomendado. Em fase de desenvolvimento encontram-se várias moléculas que no futuro próximo poderão ter um papel importante no tratamento do Síndroma de Sjögren. 

Pessoalmente, e apesar de seguir a alimentação paleo há mais de um ano, senti um grande alivio nas securas quando eliminei todos os lacticínios. Tinha dias mas sobretudo noites, em que não conseguia dormir e muitas vezes tinha dificuldade em respirar, de tão seca que tinha a boca e mucosas. Assumo que me custou bastante deixar os lacticínios, mas ao fim de 3 dias, os sintomas regrediram e estabilizaram. 

Não faço qualquer tipo de medicação seja para o que for. Até à data tenho conseguido gerir bem a sintomatologia sempre através da alimentação e tratamentos naturais.

21 de julho de 2017

Sindroma das pernas inquietas e Fibromialgia

Quando se recebe o diagnóstico de Fibromialgia, em muitos casos, já não é surpresa. Pois quando o diagnóstico aparece, já "andamos na luta" há imenso tempo e estamos familiarizados com as dores e sintomas. Não é fácil escolher um sintoma que incomode mais que os outros porque entre todos os possíveis, venha o diabo e escolha. Hoje falamos da Síndroma das pernas inquietas (SPI).


 Até à data, posso dizer que ainda não me afectou (ou então ainda não dei conta!) Mas infelizmente, esta perturbação afecta muitos doentes fibromiálgicos. Mas afinal do que se trata? O que está na sua origem? E porque razão esta síndroma e fibromialgia estão tantas vezes relacionadas.

O que é?

Basicamente trata-se duma condição em que a pessoa sente uma vontade incontrolável de mexer constantemente as pernas. As pessoas que têm SPI muitas vezes sentem movimentos involuntários e repentinos nas pernas e não as conseguem controlar. Também podem sentir formigueiro ou dormência, ou uma sensação de agulhas a picar.

Este sintoma já seria difícil de gerir se acontecesse durante o dia, mas o grande problema aqui é que acontece quando a pessoa se deita e quer descansar. Como consequência, as pessoas que sofrem da SPI não conseguem ter uma boa noite de sono, com todas as implicações inerentes.

A privação crónica do sono pode trazer repercussões muito perigosas na saúde. Noites mal dormidas durante um longo período de tempo podem provocar outro tipo de problemas crónicos e graves, como diabetes, tensão arterial elevada, perturbações do sistema imunitário, assim como perturbações a nível cardíaco. Por essa razão, a SPI deve ser encarada como um problema de saúde muito sério.

Como se relaciona a síndrome das pernas inquietas e Fibromialgia?

Infelizmente, embora se saiba que SPI e Fibromialgia estejam ligados, ainda não se sabe bem como. Mas a melhor teoria agora é que ambas as condições têm algo a ver com o facto do cérebro enviar mensagens ao longo do sistema nervoso. O sistema nervoso percorre todo o corpo, transmitindo constantemente informações para o cérebro. Alguns desses sinais, como levantar o braço, por exemplo, podemos controlar. Outros, como a batida do coração, são feitos automaticamente. E o mais importante quando se trata de Fibromialgia, é que esses nervos registam a sensação de dor.

Mas às vezes esses sinais podem ser de tal forma baralhados que o cérebro começa a sentir dor sem qualquer causa óbvia. E pode ser isto que esteja por trás da SPI: sinais nervosos hiperactivos. E também pode desempenhar algum papel nos sintomas da Fibromialgia, o que explicaria por que mais de 60% das pessoas com Fibromialgia também possuem a SPI. Isto é apenas especulação. Não se sabe com certeza o que causa Fibromialgia ou SPI, e até que se possa, a teoria dos sinais nervosos defeituosos parece ser uma explicação plausível.

O facto é que é mais um ponto negativo para quem sofre com Fibromialgia. Além de todos os sintomas com os quais é preciso lidar e que já dificultam tanto o sono, muitos portadores de Fibro também têm que lidar com a SPI. E obviamente, isso faz com que dormir o suficiente seja uma actividade incrivelmente difícil. E a falta de sono, além do que já foi referido, também provoca outros sintomas, como o agravamento da neblina mental (fibro-fog).

O que fazer para melhorar a situação?

Na verdade, não há nenhum tratamento 100% eficaz para qualquer das condições, mas existem alguns ajustes simples que pode introduzir na sua rotina, que podem tornar os sintomas da SPI mais fáceis de gerir.

Para começar, certifique-se de praticar os melhores hábitos de sono possíveis. Evite a cafeína perto da hora de dormir. A cafeína é um estimulante e poderá intensificar os sintomas da SPI. 

Evite fumar, o que, além de todos os riscos para a saúde conhecidos, também é um poderoso estimulante e interfere seriamente com os seus padrões de sono.

Finalmente, tente mexer-se o máximo possível durante o dia. Obviamente que nem sempre é tarefa fácil quando se sofre com Fibromialgia. Não é preciso correr maratonas, mas tente apenas fazer um pouco de caminhada quando e se puder. Mesmo um pouco de exercício é melhor do que nada quando se trata da SPI.